outubro 17, 2012

Four more years

Por que temos tanto interesse nas eleições americanas? Eu, por força do ofício, acompanho para ficar por dentro do que de mais novo acontece nesse mundo  a parte chamado "campanha eleitoral". Gostemos deles ou não, os americanos estão sempre passos e mais passos a nossa frente em quase tudo. Em se tratando de eleição, a distância é como daqui a lua. Não acompanhei o debate de ontem, dia 16 de outubro, mas já andei lendo que desta vez Obama foi mais agressivo, mais assertivo e menos apático que da primeira vez. Romney, por sua vez, manteve um certo carisma, mas deu algumas pisadas de bola. Pisadas essas que já até se tornaram memes na web. 

Faço aqui uma pausa para que pensemos um pouco nas eleições de cá e lá. Em pontos que, penso, ainda não evoluimos. A obrigatoriedade do voto, por exemplo. Toda a comunicação de uma campanha americana, seja ela para qual cargo for, se dá em primeiro nível para tirar o eleitor de casa. Ser obrigado a votar não me parece nada democrático. Cobrar uma taxa ridícula pela abstenção é como fingir que votamos enquanto eles fingem que são eleitos. Será que não temos maturidade para lidar com o voto como tem que ser? Voto como exercício de cidadania, uma livre escolha. Pois acredito que só mudamos nossa rua, nosso bairro, nossa cidade e país escolhendo e cobrando daqueles que irão nos representar. Mas, podem argumentar, brasileiro gosta de praia, de samba, de cerveja e num dia de sol nunca deixaria o lazer para votar. Pois questiono de novo: a não obrigatoriedade não nos faria mais exigentes com nossos políticos? Acredito que começaríamos sim com uma baixa presença, mas penso que essa tendência aumentaria pois deputados, vereadores e senadores fariam mais pelo eleitor. 

Outro ponto que me incomoda: horário eleitoral gratuito. Acredito que essa seja uma das razões de termos uma propaganda eleitoral tão bem feita. Nos Estados Unidos, compra-se espaço publicitário e, desta forma, os comitês caseiros, o voluntariado, ganham força. Um candidato sem recursos tende a correr mais por apoiadores, tende a "gastar mais sola de sapato". O tempo de TV, que no Brasil hoje significa alianças de 15, 17, 20 partidos, poderia ser algo útil. Útil até para a critividade de nós, profissionais de comunicação. 

É possível fazer uma campanha com pouco tempo de TV e poucos recursos. É possível a Davi derrotar Golias como o fez Obama em 2008. Gosto de Obama. Pela sua ousadia em apostar nos fatores que passam desapercebidos: os jovens, os negros, os gays, os latinos. Obama desafia estudos e tendências. Ousa. E na política, ousar é quase um palavrão. Principalmente no Brasil, onde há duas eleições, não se discute políticas públicas, mas sim religião e kit gay. Caminhamos para o retrocesso. E isso é triste. 

De volta a Obama. Votaria em Obama pelo ObamaCare e por sua candidatura cheia de surpresas, como pagar 5 dólares para jantar com o presidente. Oro por um dia onde teremos no Brasil um candidato que chute as convenções longe. E não me falem de Heloisa Helena ou Freixo. Esses berram. E só. Talvez Marina Silva ou o Lula de muitos anos atrás. 

Por fim, para não ficar enfadonho, os debates. Não está na hora dos veículos de comunicação do país repensarem os formatos dos debates políticos? Ontem vimos dois candidatos em pé, respondendo a perguntas de pessoas e não de oponentes dispostos apenas a atacar. Em uma eleição com cinco, seis candidatos, pode ser complicado, mas há de se pensar em sabatinas ou entrevistas longas, de profundidade, e não apenas de oito, doze minutos. 

Talvez daqui a alguns anos chegaremos ao estágio onde estão os americanos. Quem viver verá. 

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