outubro 26, 2011

O Galeão é um caso de polícia

Para quem não leu o excelente artigo do colunista Artur Xexéo, disponibilizo abaixo:

O Globo
O Galeão é um caso de polícia

O Galeão é um caso de polícia

'Concepção antiga' não justifica a série de erros na administração do nosso aeroporto internacional

Asérie de reportagens que 0 GLOBO vem fazendo sobre o estado calamitoso do Galeão (não vou chamá-lo de Tom Jobim porque isso seria uma ofensa com o mais talentoso de nossos compositores populares) comprova que, há muito tempo, nosso aeroporto internacional virou caso de polícia. Há pelo menos dez anos os usuários do Galeão convivem com tapumes que indicam que uma reforma acontece ali. É conversa mole. Os tapumes mudam de lugar, as obras nunca aparecem, e o Galeão continua sendo uma cidade do Velho Oeste.

É só sair uma crítica no jornal para as autoridades responsáveis por aquele campo de pouso argumentarem que obras futuras em pouco tempo o transformarão numa das sete novas maravilhas do mundo moderno. É mentira. O Galeão está morrendo sufocado pela incompetência, pela má gestão e pela má fé. Resta saber por quanto tempo ainda o Governo Federal, o governo estadual e a prefeitura vão reagir para interromper sua agonia.

Ontem mesmo, depois de três reportagens do GLOBO, uma autoridade da Infraero tentou se explicar. E veio com a história de sempre: "Nós reconhecemos falhas que temos no Aeroporto Internacional do Rio, que, por ser de concepção antiga, tem muito o que ser adequado", admitiu o presidente da Infraero, Gustavo Matos do Vale. A frase, além de mostrar o português tortuoso da autoridade, bate numa tecla que já está estragada de tanto ser utilizada. Então a concepção antiga justifica todas as falhas do Galeão? O Rio está repleto de prédios de concepção antiga cujos condomínios mantêm os elevadores funcionando. Por que cargas d'água os elevadores do Galeão estão sempre parados? E suas escadas rolantes também?

A autoridade acrescentou que vai licitar em novembro "o primeiro sistema eletrônico de entrega de bagagens do país, que deve sér para o Tom Jobim" (não sou eu quem está insultando o compositor, mas a autoridade). Bem, "deve ser" não se torna exatamente uma promessa. E o fraldário e*a lanchonete no setor de embarque, reivindicação de dez entre dez usuários, precisam de licitação também?

E a esteira rolante que une os terminais 1 e 2? Precisa de licitação também para funcionar? E a eliminação daquela situação dantesca de mulheres se jogando pelos balcões das companhias de táxi especial em busca de fregueses — primeira visão da cidade que os turistas encontram — precisa ser licitada?

Há oito meses, depois de fazer críticas ao aeroporto, minha colega de espaço Cora Ró-nai foi convidada a uma visita guiada ao Galeão. Na ocasião, foi informada de que os elevadores "estão em vias de troca". Bem, oito meses depois, eles continuam parados. Se foram trocados, não deu certo. As autoridades da Infraero ainda informaram a Cora que seriam inaugurados 64 novos postos de check-in no terminal 2. Agora, o presidente da Infraero diz que vai criar o "check-in compartilhado". Qual é o projeto correto?

Também não é necessária uma licitação para se acabar com os táxis-bandalhas. A "concepção antiga" do aeroporto não justifica a existência dessa praga. Estacionamentos mal administrados também não são necessariamente características de aeroportos velhos. Nem banheiros fedidos com torneiras estragadas. Nada explica ainda a não existência de uma linha de ônibus regular que transporte passageiros recém-chegados para outras partes da cidade.

A Infraero pode alegar que alguns desses itens não são de sua competência. Mas é de sua competência pressionar governo e prefeitura. Se o faz, não é com habilidade. 0 que o Galeão precisa é de um bom síndico que ame o Rio. Enquanto ele não chega, chamem a polícia.

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