Grampos e escutas

Prestar atenção na conversa alheia é um passatempo sem precedências na história da humanidade. Poucas coisas me agradam tanto. Fico ali, fingindo que estou lendo um livro, folheando um jornal, enquanto na verdade estou acompanhando como novela o cotidiano de estranhos. Um lado fofoqueiro que não tenho vergonha de admitir que tenho. Adoro.

Ontem, após horas e horas de um temporal que me deixou de molho em um local de intensa movimentação de seres humanos entediados, pude prestar atenção em muitos detalhes alheios. Essa espécie de zoo mental, que me faz sorver com muita intensidade detalhes e mais detalhes das pessoas talvez me qualificasse para uma prova na CIA ou FBI.

Em poucas horas, fiquei sabendo por duas vozes atrás de mim que paulistas gostam da noite carioca. Talvez isso explique a veneração que cariocas entediados tenham pela noite paulista. O quintal do outro é sempre mais bonito que o nosso, né?

Carioca tem uma mania estranha de venerar sua cidade, mas não gostar dela. Cariocas mudernos, sombrios, urbanos em sua essência gostariam de ladrilhar a praia ou fazer nela um shopping. Assim, quem sabe, a praia ficaria com cara de São Paulo.

Como eu disse: o quintal dos outros é sempre mais bonito.

As vozes atrás de mim adoraram o Rio Scenarium. Saíram de lá bêbados e fizeram barbaridades no trânsito chegando ao ponto de quase ir para a morada eterna. Valeu a reflexão. A voz a minha direita confessou que quase comeu a mulher do amigo após rodadas e mais rodadas de chope. Sábio. O que para homem é raro. Mas homem é mais fiel aos amigos. Aposto que se fosse a mulher com uma amiga teria dito: "putz, porque eu não dei pro fulaninho??".

A mesma voz sábia começou a falar da filha, que estava com um esquema super legal para ver a menina e que o novo chefe chegou pedalando a porta, botando todo mundo para remar que nem Ben Hur. Deu dó.