agosto 15, 2006

Um causo

Nessas minhas andanças por aí tenho encontrado personagens recorrentes. Sempre há um bêbado, um mendigo e um deficiente mental. Sempre. Talvez por serem cidades pequenas e qualquer movimentação traz algum reboliço e todos partem para a rua em busca de alguma novidade. Fato é que eles sempre estão lá. Como os pipoqueiros do Rio que sempre encontram o evento certo para faturar uns trocados. Os deficientes variam. Alguns vão acompanhados de suas famílias e pouco incomodam. Outros aparecem do nada distribuindo as vezes beijos, abraços, apertos de mão, pedidos esdrúxulos. Em Paracambi o pobre do rapaz estava com uma camiseta onde se lia: "Planeta Marrom". Sentiram o drama, né.

Pois é. A toda hora o Planeta Marrom vinha me perguntar se eu conhecia uma pessoa. Eu dizia não, eles esperava uns cinco minutos e voltava. Mereço? Em Paty do Alferes tinha um mendigo ... em Miguel Pereira um deficiente mental que se divertia com bandeirinhas e bandeirolas. Em Areal, cidade bucólica de uma rua só, encontrei um maluco mas esse .. não era de rua e nem tava acompanhado de parentes. Era chato mesmo.

Acompanhem ...

Chegamos ao restaurante. Eu, o fotógrafo e o motorista. O fotógrafo abriu o laptop e pediu para ligar o aparelho na tomada. O fio passou por cima do balcão, na lateral do bar e ele sentou na mesa logo à frente para não atrapalhar. O movimento de pessoas no restaurante se dava pela entrada principal, onde eu estava sentada. Na outra entrada lateral tinha um senhor negro, de uns 50 anos, apreciando a TV. No tempo que estivemos lá, além de nós, entraram mais novem pessoas em momentos distintos. Logo quando entrei peguei uma coca na geladeira próxima ao banheiro e fui me servir. Era sel-service. R$ 6 e você podia comer até explodir. Sentei ao lado do motorista enquanto o fotógrafo continuava com um olho no prato e outro no computador. Aí entra o coroa. Bigodão, bermuda. Olha o laptop, olha o fio, olha o laptop, olha o fio.

- Dá pra ligar isso em outro lugar?

Eu e meus companheiros de trabalho trocamos olhares curiosos. Afinal, quando aparecia alguém era para comer até aquele momento ninguém tinha nem chegado perto do balcão nem que fosse para tomar um café. O coroa continuou olhando para o laptop, para o fio, para a entrada lateral.

- Não dá pra esse negócio ficar ligado aí. E se alguém quiser passar.

Até esse momento o menino que estava atendendo a gente no balcão tinha ido até a cozinha. O coroa não sossegou. Foi até outra tomada, mas esssa estava carregando o celular do motorista.

- Moço, por favor nãop mexe que tá com mal contato.

Pensei: agora o homem solta os cachorros.

- Tem que ligar aqui! Esse fio vai atrapalhar ..

Enfim o fotógrafo se manifestou.

- Eu pedi pro rapaz e ele disse que tava tudo bem.

Aí chegou o rapaz.

- Olha - continuou o coroa - vai atrapalhar aqui.

O menino nem se abalou e o coroa lançou mais dois olhares pro fio e pro laptop antes de sair.

É amigos .. a vida dura.

Quando estávamos indo embora ele estava reclamando de um carro parado em frente à saída do hotel. Pois é .. nosso restaurante era o hotel local no segundo lugar. Vai ver que ele era o dono mesmo. Mas que ele era chato ... ô ...

Todo

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