outubro 24, 2002

Devagar com o andor

Minha mãe não gosta de reveillon. Pragmática, diz que no dia 1º de janeiro sua vida continua a mesma. Festejar o quê? "Esse lance de ano novo vida nova fica para os bestas", ela costuma dizer. Exageros à parte, o raciocínio tem o seu fundo de lógica. Comemora-se muito, mas no dia 2 está tudo igual. A vida continua velha. Por tradição, lá em casa comemoramos aniversários. Essa data sim marca o começo de uma nova etapa.

Porque falo de reveillon em outubro? É apenas uma introdução. Quero falar daquele clima pré-reveillon. Aquela sensação de mudança, de festa. Nos últimos dias tenho sentido esse "ar de final de ano". É aquele clima de euforia e felicidade, bem típico dos dias 29 e 30 de dezembro. Desses dias, por exemplo, eu gosto. Fica todo mundo feliz, planejando festas, roupas, promessas. Esse clima é primo daquele sentimento do torcedor que fica 20 anos esperando o time ganhar qualquer campeonato. Uma Taça Guanabara serve. Porque insisto nisso? Chega de introdução. Já posso dizer que ando preocupada. Lula, com a taça na mão, só não corre para o abraço. Praticamente eleito, só não deve abusar do salto alto. Afinal, o jogo só termina quando acaba. Motivos para comemorar não faltam, mas é preciso pé no chão. Lula não é santo. Muito menos milagreiro. Está na fila há anos. Perdeu três eleições, bateu na trave e não entrou. Representa uma ideologia, um estilo de vida. Virou Lulinha Paz e Amor, tá calmo, tá manso, tá quase presidente. E como presidente, não irá solucionar num passe de mágica todos os problemas que nos assolam. Como presidente, haja trabalho.

Vejo as pessoas, brilhos nos olhos, falando dele como a grande revolução (no bom sentido) do país. Longe de mim querer botar água no chope alheio, mas depois da posse esse Brasil será o mesmo. Mudar, aposto que vai, mas aos poucos, com passos lentos. A missão é dura. Duríssima.

Ser oposição é fácil, já ser governo ...

O Partido dos Trabalhadores amadureceu. Tem coerência, liderança. Ficou menos ingênuo, menos idealista. Aliou-se ao PL! O PT quer mostrar do que é capaz. E potencial não falta. Mas as coisas não são sempre cor de rosa. A crise é grave, o sistema viciado em velhos erros, a burocracia é grande.

Espero que mude, torço para que mude. Mas sejamos mais realistas que o rei. Canja e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Por outro lado, nada de terrorismo. Não seremos uma Cuba de dimensões continentais. Não seremos os últimos comunistas na face da Terra. O discurso do "Tenho medo" não cola. Se a vitória é inevitável, nos juntemos pelo melhor.

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