setembro 23, 2002

Recebo uma e-mail
Camila me escreve e na mensagem leio "Lembrei de vcs".
Invariavelmente quando recebo e-mails assim os assuntos variam entre: bebedeira, sexo e futebol.
As pessoas lembram de mim quando pensam nisso. E agora, José?
Reproduzo ...


-----Mensagem original-----
De: Nara Franco
Para: Camila Pohlmann
Assunto: Re: lembrei de vcs
Já sei .. do papo de bêbado vc lembrou de mim .. do papo de cachorra vc
lembrou da Roberta ... ;-)

From: Camila
To: "Nara Franco (E-mail)" , "Roberta Carvalho (E-mail)"
Subject: lembrei de vcs

Amnésia alcoólica
João Ximenes Braga
>
>"Muitas vezes as pessoas manifestam um curioso respeito por um bêbado, como
>o respeito das raças simples pelos loucos. Respeito, mais do que medo. Há
>algo de assustador numa pessoa que se libertou de todas as inibições, que é
>capaz de fazer qualquer coisa. Claro que mais tarde a fazemos pagar por seu
>momento de superioridade, por seu dom de impressionar".
>
>O parágrafo acima é de F. Scott Fitzgerald numa tradução fraquinha de
>"Suave é a noite" que comprei em camelô outro dia. Antes que me perguntem, não sei
>o que são "raças simples". Mas conheço gente que bebe. Sou jornalista,
>afinal de contas, e tenho até espelho em casa. Um espelho estranho, de
>imagem turva.
>
>Apesar de não ter blindado meu telhado de vidro, tem um amigo que me acusa
>de conspiração contra ele. Costumo lembrar o que ele faz depois do sexto
>uísque. Ele, nunca. Assim, vejo-me no papel de lhe dar updates de sua vida
>amorosa. Ele não acredita.
>
>Esse é o tipo de amnésico alcoólico (isso existe?) que dá mais trabalho.
>Aquele que depois se transforma num paranóico com mania de perseguição,
>passa a acreditar que os amigos estão inventando tudo para torturá-lo.
>Sempre falha num ponto: como não admite nada mas nunca tem álibi ou provas
>do contrário, acaba demonstrando que não lembra mesmo. Ou seja, dá margem
>para que tudo se invente a seu respeito. Mas nunca é preciso inventar nada.
>
>Outro tipo comum é o culpado. Ele liga no dia seguinte, com aquela voz de
>quem foi atropelado por um Volvo desgovernado na Dutra, nem dá bom dia
>(quer dizer, boa tarde) e vai logo perguntando:
>
>- Eu fiz alguma coisa?
>
>- Isso-aquilo-e-aquilo outro. Nada fora de hábito.
>
>- Nunca fui tão humilhado!
>
>- Foi sim, sempre.
>
>Ele entra em depressão e sai para tomar um chope. Na tarde seguinte, liga
>de novo.
>
>E tem o tipo revoltado. Aquele para quem um refrigerante no café da manhã
>não só cura a ressaca como a culpa. Esse é o que acredita em Fitzgerald e
>não dá o braço a torcer mesmo depois de sóbrio.
>
>- Você lembra que na festa de sábado você fez isso-aquilo-e-aquilo-outro?
>
>- Não, e daí?
>
>- Todo mundo viu.
>
>- Reformulando a pergunta: e daí?
>
>- Estava todo mundo do trabalho lá.
>
>- É, mas pelo menos eu sou o único ali que só dá vexame na frente de todo
>mundo fora do horário e do ambiente de trabalho.
>
>O pior de todos, contudo, é aquele que nunca sofre de amnésia alcoólica.
>Aquele que bebe, fica até o fim da noite, mas composto, enquanto os amigos
>chafurdam. Aquele que no dia seguinte é o único com direito a tirar sarro
>de todos, pois nem tem telhado de vidro.
>
>Por que é o pior? Porque corre mais perigo. Os outros, quando muito, levam
>um ou dois tombos na pista (tá bom, três). Mas esse tipo sofre o risco de
>cair na fúria vingativa alheia. Suscita planos de se botar alguma droga em
>sua bebida e tirar fotos comprometedoras para distribuir na internet.
>
>É, eu estou falando de você, sim. Todo cuidado é pouco, cara.

>Neste mundo de "Bridget Jones" em que as mulheres parecem não ter mais o
>que fazer além de choramingar a falta de homem, não há nada melhor que ter uma
>amiga cafajeste para refrescar o ambiente.
>
>A mulher cafajeste é um espécime raro. Não tem nada a ver com a cachorra,
>que é tão somente uma versão pós-funk da velha rameira. A cachorra é, no
>fundo, uma perua submissa. A mulher cafajeste, não. Essa é aquela que está
>sempre no controle da situação.
>
>É aquela que, num show na praia de Copacabana, interrompe o discurso de
>M.V. Bill sobre as desigualdades sociais para gritar:
>
>- Tira a camisa, pô.
>
>É aquela que reencontra um velho amigo de anos, pega carona com ele e,
>quando ele menciona que já tinha ido a uma festa em seu prédio, ela diz:
>
>- Ah, você já conhece mesmo, então sobe.
>
>É aquela que, já em casa, depois da noitada de sábado, recebe um telefonema
>de um paquera querendo saber onde ela está, se quer ir à festa tal etc. E
>responde:
>
>- Melhor você vir direto para cá que eu já passei meus cremes e não vou
>sair mais.
>
>E o melhor de tudo: a mulher cafajeste sempre se lembra de tudo o que faz.
>You go, girl!

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