Minha falta de entusiasmo pela seleção brasileira vem dos idos de 1994. Foi a última Copa que me pegou pelo coração. A partir de então vibro mais com seleções alheias. Sabe ... a seleção brasileira é muito sem graça. Muito sem graça mesmo. Detectei o problema hoje quando vi a matéria sobre o craque uruguaio Luis Suárez, após sua monumental partida contra a Inglaterra.
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Menos cabelo e mais futebol! |
A seleção brasileira é
sem carisma. Tudo é fake. O cabelo do Neymar, as caretas do David Luiz,
as modas do Daniel Alves, acho que até a bunda do Hulk. Tudo parece
pasteurizado, programado, igual. Não há um toque dramático que nos faça
chorar ou sofrer. Uma seleção sem sal.
Em 1994, o Brasil torcia contra o Brasil. Eu torcia para a seleção para ser do contra. E porque tinha o Dunga querendo dar a volta por cima, o Romário bad-boy no auge da carreira, toda aquela turma da seleção de 90 meio que com gana de dizer que não eram mercenários, a morte do Senna. Um contexto para lá de dramático. Quando o mundo dizia que o Brasil não ia ganhar, ganhou. Quer enredo melhor?
Em 1998 teve aquele drama do Ronaldo que até hoje ninguém sabe dizer o que foi. Mas tinha o Zagallo raivoso, gritando que tinham que engoli-lo a qualquer custo. Um senhor de cabelos brancos aos berros nos pênaltis contra a Holanda. Era irresistível. Uma seleção envelhecida, meio doida, com o Dunga dando cabeçada no Bebeto em pleno jogo. Um descontrole total, mas que nos levou ao vice-campeonato.
Em 2002 tinha o Ronaldo desacreditado. Eu mesma achei que ele nunca mais chutaria uma bola depois de ver seu joelho se partir em pedaços no jogo da Inter. Tinha o Felipão, a tal família Scolari. Tudo bem .. Tinha o Roque Júnior, o Vampeta, mas justamente por isso era hilário ver o Brasil jogar. Não morri de amores, mas foi legal ver o Ronaldo dar a volta por cima.
A Copa seguinte, 2006, foi uma palhaçada tão grande que nem vale comentar. Foi o primeiro passo de distanciamento. Aquilo foi um circo. Só faltou o pão. Faltou porque os jogadores estavam obesos e devem ter comido tudo. Na África do Sul aí que eu não torci mesmo. Dava para vibrar com um time dirigido por um técnico grosso como o Dunga?
E com Felipe Melo no meio-campo? Foi o divórcio. Resolvi não torcer mais pela seleção. E não torci. Como até hoje não fico nervosa, não fecho os olhos, não saio da sala. Se ganhar, ganhou e, se perder, perdeu.
Porque desde 2006 a seleção do Brasil é uma água de salsicha. Desinteressante. Cheia de jogadores que eu nunca vi jogar e que não merecem estar ali. A desse ano é a mesma coisa. Todos os jogadores mega estrelas, crianças mimadas como li outro dia, fazendo propaganda de seus patrocinadores nas redes sociais entre um treino e outro e com um futebolzinho ridículo.
Daí que você olha para o vizinho Uruguai e sente toda a dramaticidade, digna de Janete Clair, nos manos celestes. Tem o Suárez operado, lutando contra o tempo. Tem o Lugano machucado. Tem a derrota contra a Costa Rica. A eliminação eminente, o jogador expulso. Nem Janete Clair faria melhor. O segundo adversário? Inglaterra.
E não é que Suárez destrói o jogo marcando dois golaços? Dois golaços sem aquelas firulas irritantes do Neymar! E no meio do jogo um uruguaio apaga após uma cabeçada, cai nocauteado, e não se deixa substituir! Sensacional! Puro drama latino-americano!!!
Torci para a Inglaterra, mas no fundo não deixei de vibrar com a vitória uruguaia. Sem eles a Copa ficaria sem graça. Apesar de achar difícil que essa Copa tão surpreendente fique chata em algum momento. Invejo, sobretudo, os uruguaios apaixonados, transbordando garra por todos os poros, fazendo de qualquer jogo uma decisão.
A nós resta a velha e batida família Scolari. Chata, sem graça e sem sal.