junho 28, 2004

Será

Deus ainda há de me reservar o momento sublime de ver e/ou ouvir alguém ter o culhão de dizer em um velório que o morto em questão foi um grandissíssimo filho da puta.

Bastar morrer para viraramos santos de intocável reputação. Deus queira que seja assim quando eu me for desta para melhor. Mas ainda assim prefiro que esqueçam dos meus erros em vida. Do que adianta me dar sossego no sono eterno?

E falei de tudo isso porque li o interessante artigo no NoMinimo.

O pesadelo se repete toda noite desde a morte de Leonel Brizola. Refeito do susto, troco o pijama e passo uma boa meia hora consternado com o drama do líder trabalhista. Ninguém merece morrer e ficar assim exposto a toda sorte de elogios disparados pelos nobres Garotinho, Moreira Franco, César Maia, ACM, Sérgio Cabral Filho, José Sarney, Arthur Virgílio, Rosinha... Ninguém merece!

Deveria ser prerrogativa do morto escolher em testamento os oradores de suas homenagens póstumas. Ou melhor, como nas biografias, deveriam existir dois tipos de obituário: o autorizado e o não autorizado. Sei que o problema não é exclusivamente brasileiro ? com Ronald Reagan foi a mesma coisa -, mas aqui no Brasil neguinho sempre passa dos limites na hora de elogiar morto. Ainda que não seja de bom tom esculhambar o falecido, será possível que não dá pra ficar em silêncio, caramba?


by Tutty Vazquez.

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