abril 02, 2004

Mais uma dica roubada da coluna Pé Sujo do Globo

Reduto da boemia

BARES CADA vez mais novos e sofisticados. Casas tradicionais submetidas a profundas cirurgias plásticas. Botequins com assessorias de imprensa... É o Leblon dos aluguéis exorbitantes e dos carrões importados que se espalha para dentro dos botecos, toma-lhes a alma e os redesenha com o último grito das revistas de decoração. A mais recente baixa — a desfiguração do Flor do Leblon — quase deixou definitivamente órfãos os boêmios do bairro que não se acostumaram a salões bem iluminados, banheiros finamente decorados e cardápios criados por agências de design. E só digo quase, caro leitor, porque a eles ainda resta o Tio Sam.

Praticamente esquecido lá no princípio da Rua Dias Ferreira, onde os ventos chiques não começaram a soprar, o Tio Sam é um dos últimos redutos no bairro para quem prefere beber e conversar sem roupa nova. Lá, o único rosto conhecido é o de João Ubaldo Ribeiro, que fez do bar seu ponto preferido desde que as tranqüilas tardes de sábado no Flor do Leblon chegaram ao fim.

Junto com João, muitos outros velhos boêmios também resistem no Tio Sam. Agarrados às mesinhas de ferro, ao velho balcão de esquina e aos bacalhaus pendurados no teto, todos seguem pedindo o de sempre: o chope digno, os petiscos razoáveis e a promessa de que, ali, as mudanças tardarão a chegar. De seu Chico, dono do lugar há 30 anos, a resposta também é sempre a mesma: “Aqui não muda nada.” Eles então respiram aliviados, e pedem outra rodada.

Mas ninguém arrisca dizer quando chegará a saideira.

Bar Tio Sam: Rua Dias Ferreira 605, Leblon — 2512-2413. Diariamente, das 10h às 2h. C.C.: Todos.

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