janeiro 09, 2004

Pé sujo

Essa coluna é uma das melhores idéias da imprensa carioca nos últimos tempos. E eu, como amante dos botecos cariocas, vou reproduzi-la aqui sempre. E mais: vou aos locais indicados para dar meu parecer técnico-científico sobre os locais.

Um alemão carioquíssimo

SOU UM arrogante, reconheço. Achei que não havia mais no Rio bons botecos que eu não conhecesse. Tamanha soberba foi castigada outro dia, quando um amigo revelou a falha em meu conhecimento etílico-gastronômico-popular: levou-me ao Millleniun Inn, na Rua Djalma Ulrich 49, uma quadra antes da Praia de Copacabana.

Nunca tinha ouvido falar do lugar. Digo mais: se casualmente tivesse passado em frente, não teria entrado. A impressão não é de botequim, mas de um caça-níqueis para turista, com a desvantagem de sequer ficar de frente para o mar. Pois, por trás do nome que não diz nada e da duvidosa decoração, esconde-se um botequim com essência.

Klaus, o dono, é um alemão que apaixonou-se pelo Rio, rasgou a passagem de volta e comprou o ponto. Graças a ele, a casa serve autêntica comida alemã, adaptada para a realidade brasileira nos nomes e nos preços. Lá, um legítimo fleischkase, espécie de salsichão suave em formato de pão de forma, chama-se bolo de carne e custa R$ 5. Há também as salsichas de vitela com mostarda — supimpas, a meros R$ 3,50 — e uma fartíssima sopa de entulho por R$ 4, com direito a duas tigelas.

Para beber, cerveja e chope alemães a preços razoáveis. Uma Erdinger — cerveja de trigo que no Rio só se encontra aqui e acolá — sai por R$ 8,50. O chope é Wersteiner, a R$ 3 a tulipa e R$ 5,50 a caneca.

E tudo isso ainda é um prazer inexplorado. O bar atrai poucos freqüentadores. Basicamente, turistas alemães, alemães cariocas, aposentados e amantes do esporte dos reis. É que a casa, ao lado de uma loja do Jockey Club, serve de posto avançado para as apostas e a torcida. Nas noites de corrida, Klaus bota uma TV no balcão. São os únicos dias em que o Milleniun Inn lota. Pelo menos por enquanto.


A coluna é do Juarez Becoza e sai de 15 em 15 dias, sexta-feira, no caderno Rio Show.

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