março 18, 2003

Um post longo

Elisa Lucinda abre meus trabalhos hoje aqui no blog. Para quem não sabe quem é Elisa Lucinda, a atriz-cantora-poetisa está atuando na novela Mulheres Loucas, digo, Mulheres Apaixonadas. Ela faz a mãe da Camila Pitanga.

Essa novela por sinal merece um post longo. Não morro de amores pelo autor Manoel Carlos, mas também não o odeio. Guardadas as devidas proporções, acho que ele é o nosso Woddy Allen. Relata como poucos esse cotidiano bem cotidiano. A carioquice bacana lebloniana.

Todo mundo sabe que ele adora colocar o nome de Helena em seus personagens e que a Regina Duarte costumava ser seu bichinho de adoração. Suas novelas têm sempre o mesmo elenco fazendo os mesmos papéis, o que cria um dejá vu meio chato. Aquela cara de enfadado do José Mayer, aquele jeito sempre feliz da filha do autor (que faz a função do coro grego, repetindo tudo o que o personagem principal fala), a Helena Ramaldi sempre mal amada, Suzana Vieira, a rica bon vivant.

Mulheres Malucas, digo, Apaixonadas, não poderia surpreender. Leblon, paisagens, amores, traições, Leblon, paisagens. Vai dar certo porque as novelas atuais não têm qualidade. A menos pior sempre acaba se saindo bem. Porém, não precisava ser essa coisa artificial, quase Betty a Feia, quase folhetim, quase Melrose Place. Diálogos surreais e polêmicas infinitas fazem dela uma novela de quase realismo fantástico, quase Dias Gomes, quase porcaria.

Vejamos. Temos um romance entre a coroa e garotão, um casal gay feminino (tabu dos tabus), uma alcóolatra apaixonada por um padre, uma ciumenta compulsiva que não quer engravidar, amor entre primos. Parece Glória Perez, mas não é. Com Glória Perez tudo isso seria pior. Veríamos o nonsense de um subúrbio que não existe.

Todas essas polêmicas já transformariam a novela num lixo. Mas aí vêm os diálogos no gênero comercial de curso de idiomas: "Es-sa bol-sa é sua? Não, es-sa bol-sa é mi-nha .."

Na piscina, naquele clima família, ela olha pro marido e solta à queima-roupa: "Você seria capaz de me trair?" A resposta, cheia de chavões de Suzana Vieira, me lembram o tempo que eu tentava ler a revista Nova. Coisa triste.

Não bastasse tudo isso, as situações são rodeadas de repercussões chegadas ao ridículo. As namoradinhas não causam estranhamento em ninguém e discutem a relação junto com os pais num restaurante; os filhos não acham estranho a mãe andar com o empregado bonitão a tiracolo; a professora de educação física vai dar aula de biquini e chama os alunos para um lanchinho na casa dela. Quem acha estranho, ninguém.

Com toques de Nelson Rodrigues no primeiro capítulo, Mulheres Piradas, digo, Apaixonadas é ruim de doer. Uma releitura carioca do clássico Melrose Place.

Melrose Place era Barrados no Baile na casa dos 30. Tinha o bad boy, o galinha, a menina ingênua, a inescrupulosa, a mocinha. Viviam sempre rindo e tendo diálogos nonsense. Quando surgia um problema entre eles, conversar era a última hipótese. Primeiros eles se envenenavam, sequestravam, matavam, traíam. Depois tudo voltava ao normal. Era tão ruim que eu não perdia.

Apostei com uma amiga que aos poucos as polêmicas vão sumir e dar lugar as histórias de sempre. Até hoje na história da teledramaturgia brasileira apenas três novelas abordaram a temática gay-mulher. Experiência mal sucedidas. Nem mesmo o autor acredita em sua história. Disse no jornal que as duas não são gays e que vivem apenas uma "amizade colorida".

Amizade colorida? Isso é dos tempos do Antônio Fagundes .. "pela lente do amor .. "

Ainda tem o casal de velinhos maltratados pela neta, a rica que perdeu a grana e não a pose. Xiiiii ... alguém lembra das tramas simples, histórias de amor, regadas no bom drama?

Por isso, Nelson Rodrigues é rei.

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